O telefone toca, número desconhecido:
- Alô? - Fulana?
- Sim, sou eu. Quem fala?
- O Homem Da Sua Vida.
- Hein? (silêncio) - Oi, Fulana. É o Sicrano.
- Nossa, quanto tempo, tudo bem Sicrano?
- Tudo bem sim, e você?
- Tudo, graças a Deus.
(silêncio)
- E aí?
- Ahhh... Então, Fulana, você está ocupada, quer que eu te ligue depois?
- Não, imagina. Pode falar. Que surpresa, não nos falamos há mais ou menos... Ahm... Uns dois anos?
- Dois anos e cinco meses.
- Uau! (silêncio) Que exatidão.
- Então Fulana... E depois de todo este tempo, eu estou te ligando pra te perguntar uma coisa.
- Hum... Okei, pode perguntar!
- Porque é que a gente não se viu mais?
(silêncio)
- Como?
- É, num dia estávamos saindo e trocando juras, no outro nunca mais nos vimos.
- Hum, na minha visão não foi bem assim que aconteceu, mas de qualquer forma... Porque é que você quer saber disso, depois de tanto tempo?
- Porque eu estou fazendo análise sabe... Três vezes por semana, e meu analista me deu essa lição de casa, de te procurar e perguntar o porquê de nunca mais termos nos visto.
- Ah, você está fazendo terapia?
- Não é terapia. É análise.
- Ah, sim, me desculpe.
- Três vezes por semana.
- Ah, mas isso é excelente!
- O que você quer dizer com isso? Que eu sempre fui completamente fodido?
(silêncio)
- Não... É claro que não, imagine! Me desculpe, eu não quis...
- Deixa pra lá. Esquece. Eu, supostamente, não devo me importar com a opinião das pessoas a meu respeito, esta é outra lição de casa que meu analista me deu.
- Eu não sabia que analistas davam lições de casa.
- Eles dão.
(silêncio)
- Então, Fulana, a pergunta...
- Ah, sim. É claro. A pergunta. Bem...
(silêncio)
- O que quer que seja que tenha acontecido, você pode me falar. Eu agüento.
- Bem, Sicrano, eu não sei qual a melhor forma de te dizer isso, mas... - Mas...?
- É que, bem... Você nunca mais me ligou!
(silêncio)
- Como?
- Sim, é verdade. Num dia você veio aqui em casa, era véspera de feriado. Passamos a noite juntos e você disse que ia me ligar depois do feriado, que trabalharia no feriado... E não me ligou mais!
(silêncio)
(silêncio)
(silêncio)
- Sicrano?
- E você não me ligou uma única vez?
- Bem, eu...
- Você dizia que gostava tanto de mim e não me ligou uma única vez? Dizia que nunca tinha sentido por ninguém o que sentia por mim e não correu atrás do homem da sua vida?
- Bom, na verdade eu nunca disse nenhuma dessas coisas, mas bem, eu te liguei sim!
- Hein?
- Sim, eu te liguei. E você disse que estava em reunião e que me ligava depois. Como você não me ligou, eu te liguei na outra semana mas você também não atendeu ao celular.
- Como? Eu não atendi ao celular?
- Não. E depois de um tempo fiquei sabendo pelo Beltrano que você estava namorando. E bem, aí eu... Achei de bom tom não voltar a te ligar.
(silêncio)
(silêncio)
(silêncio)
- Hahahahahahahaha, quá quá quá quá, kikikikikiki, hahahahahaha!
- Sicrano?
- Me desculpe, Fulana, mas... Hahahahaha! (silêncio) - Ai, ai... E esse tempo todo eu achando que eu é que tinha sido rejeitado!
- Bem, eu...
- E na verdade eu é que não quis mais nada com você! E acho que até me lembro o porquê!
- Ham...
- Quer saber o porquê?
- Não, na realidade não me faz muita diferença, mas...
- Como assim não te faz diferença? Você não tem vontade de saber o porque de ter sido rejeitada?
- Bom, na verdade não, quer dizer, isso já faz tanto tempo que eu... Bem, eu estou namorando, então seja lá qual for o motivo, não faz mais diferença hoje em dia...
- Não?
- Não mas... Bem, se isso fizer parte da sua lição de casa na análise você pode me dizer.
(silêncio)
- Como assim? Você está sugerindo que TE dizer alguma coisa sobre MIM poss ser lição de casa da MINHA análise?
- Não, eu só quis...
- Você que vá fazer análise pra ter as suas próprias lições de casa e aí me ligue e pergunte o porque de eu não ter querido mais nada com você!
- Como?
- Passar bem!
Ligação encerrada.
É conversando que a gente se entende?
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
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